Do you speak nadsat?

“Minha gulliver dói, foi por culpa daquele moloko do Lactobar, comerei um eggwegi e vou me encontrar com aquela devotchka num mesto ultraviolento para me sentir bem”. É, meus Veras, tá aí uma frase que se eu lesse a um tempo atrás faria “oookay so”, e iria para outro site, mas realmente espero que vocês não façam o mesmo, até porque eu vou explicar tudo isso aí… xácomigo 😉

Antes de mais nada, vou começar explicando o porque escrevi essa frase nonsense. Recebi essa semana umas reclamações dizendo que o Vera não falava sobre cultura em si, “afinal música, games e filmes são só diversão, e isso não é cultura!”, minha vontade era falar: “Ah é? Então vai tomar no seu cu!, pseudo-intelectual de merda! vai se ferrar!”, mas como sou uma pessoa superior, virei educadamente e respondi que para mim, cultura pop é cultura sim, que já vi filmes que me ensinaram muito mais da vida do que livrinho de sociólogo com banca de deus que encontrei por aí. Mas que agradeci a opinião, afinal, todas são bem vindas, e disse que meu próximo post seria sobre um livro. Vou confessar que no começo esse papo me deixou meio irritado, mas pra quem não sabe, amo ler e acho que escrever sobre alguns dos livros que eu gosto aqui, seria no mínimo curioso.

Então depois das minhas tradicionais-introduções-intermináveis, vou começar a explicar a frase que deu início a esse post. A língua falada naquele trecho é chamada Nadsat, ela não existe no mundo real, mas existe na conturbada Inglaterra do século XXI, do romance de Anthony Burgees, Laranja Mecânica. Muitos nunca ouviram falar do livro, apenas do filme dirigido por Stanley Kubrick, mas estou aqui pra te garantir que entre o livro e o filme, o filme toma um pau! A trama toda gira em torno de Alex, um menino de 14 anos que tem como Hobbies assaltar, estuprar e beber. Se isso te chocou, espere até botar as mãos num exemplar, e ler algumas páginas. O livro narrado em primeira pessoa faz com que Bentinho, de Machado de Assis, pareça uma pessoa lúcida e responsável. Alex, depois de cometer uma série de crimes, começa a sentir algumas consequências, sempre se achando vitima de tudo aquilo, claro! De modo que você chega realmente a questionar se Alex merece tudo aquilo, se ele é realmente o vilão da história, ou o vilão é algo muito maior do que uma simples pessoa. E se você já viu o filme e está pensando “to suave de ler uma coisa que já sei o final”, amigão, tenho que informar que você necessita correr até a livraria mais próxima, porque além de ter uma série de personagens, situações e explicações novas (ou você nunca se perguntou como foram os dias que precederam o tratamento que ele sofre, ou o porque ele gostava tanto de leite? Te respondo com outra pergunta: aquilo era leite?), o romance possui um final TOTALMENTE diferente do filme setentista, e vai por mim… vale a pena saber o verdadeiro final do pequeno Alex.

Mas além da loucura toda do livro, o que chama a atenção é que Burgees, ao criar o personagem e a trama si, sentiu a necessidade de fazer Alex falar gírias, como todo bom adolescente, mas também percebeu que as mesmas mudavam num período muito curto, e com isso seu livro se tornaria obsoleto em questão de meses, a solução foi criar suas próprias gírias, sua própria língua, que vem de um misto de russo, inglês e línguas ciganas (é, bicho!).

Um copo de leite, por favor ?

A primeira reação é com certeza de estranheza, um montuado de palavras que você nunca ouviu, oh god (ou seria bog?) o que eu faço? Sente-se e desencane, pois a magia de Laranja Mecânica é justamente essa estranheza, junto com o sentimento de culpa por estar participando de toda aquela situação com o jovem  Alex, faz disso tudo um livro único e inesquecível. O meu livro por exemplo, veio com um glossário de nadsat na última página, mas eu resisti a tentação, não o li e tentei entender por mim mesmo o Nadsat. E super recomendo isso para todos os futuros fãs de Laranja, porque quando você menos esperar… POW!, você está falando Nadsat 🙂

By the way, vou adiantando a tradução da frase lá de cima: “Minha cabeça dói, foi por culpa do leite que eu tomei no Lactobar (um bar presente no livro, e no filme), comerei um ovo e vou me encontrar com aquela garota num lugar muito bom para me sentir bem”.

Bom, essa foi a minha dica de livro, dependendo da reação desse post, eu posto mais algumas dicas 😉 Afinal, bons livros não são uma coisa em falta, o que falta na verdade é a divulgação desses livros de maneira correta. Quem sabe o Vera não ajuda a mudar um pouquinho disso né?